Com a chegada do kit elétrico, estava em condições de finalizar a versão 1.0.
Tinha a ideia teórica de como o fazer mas na realidade nunca sequer tinha andado numa e-bike, quanto mais montar uma!
A minha principal preocupação nesta fase era garantir que tudo ficava o mais alinhado possível para evitar atritos nas rodas e manter o design da Utopia. O meu medo era ter fios pendurados por todo o lado depois do trabalho todo que tive em mantê-la bonita.
Comecei por retirar as duas rodas. A da frente porque o kit trás uma roda com o motor embutido e no qual preciso de montar o pneu. A de trás teve de ser tirada porque o cepo que a montou (leia-se eu) decidiu por o pneu no sentido contrário.
Ao montar a roda de trás novamente no sitio, já com a atenção de usar o sentido correto, passei para a frontal.
Voltas, voltas e mais voltas e ela não queria entrar. Com um olhar mais atento, era o garfo que estava estreito nos apoios do veio. Faz sentido porque foi pintada com algumas demãos de tinta e o veio da jante original é muito mais fino (saca rápido).
Voltas, voltas e mais voltas e ela não queria entrar. Com um olhar mais atento, era o garfo que estava estreito nos apoios do veio. Faz sentido porque foi pintada com algumas demãos de tinta e o veio da jante original é muito mais fino (saca rápido).
A resolução passou por usar um limatão (um género de lima para metal mas redonda) e comer a tinta que se acumulou nas fendas para o veio da roda.
Este veio possui umas particularidades interessantes. Nas extremidades, não é redondo mas sim oval. Isto permite que o encaixe no garfo seja o mais justo possível, dadas as forças adicionais que lhe serão aplicadas.
Embora já encaixasse bem e ficasse justo como se pretendia, ainda não estava funcional. Fiz trocas de anilhas de um lado para o outro mas ficava sempre algo a roçar em algum lado. Tive mesmo de colocar uma anilha adicional para servir de espaçador. As anilhas utilizadas são de 12mm.
Com a roda finalizada, tive de montar dois componentes no volante: Display de controlo e acelerador, um de cada lado, junto aos punhos. Por mais simples que esta tarefa seja, o grande desafio foi a arrumação...
A Utopia tem as manetes de mudanças e travões na mesma peça. Isto é impecável para BTT's mas não para uma e-bike. Como tenho tendência a ter as manetes inclinadas para baixo devido à posição em que ando, foi terrível conseguir encontrar um ângulo em que todos os componentes funcionassem, sem baterem uns nos outros. Adicionalmente, como o acelerador e controlador têm de ser os primeiros componentes a seguir aos punhos, o acesso a travões e principalmente mudanças ficou mais difícil. Não seria grave porque pelas contas e pelo que tinha investigado, deixaria quase de todo usar mudanças.
Bateria! O grande peso e pesadelo de uma e-bike. O meu modelo é feito para ser aparafusado diretamente ao quadro, no local do suporte para o bidon da água. Para o fazer, é necessário tirar a bateria do suporte, fixar o suporte e depois recolocar a bateria. A ideia deste método é permitir tirar a bateria deixando sempre o apoio na bicicleta, o que pode ser útil para carregá-la ou quando se deixa a bicicleta num parque público.
Ainda com todos os fios pendurados estava a faltar o cérebro da operação que seria responsável pela boa ou má gestão de cabos.
Acho que nunca o indiquei mas tenho alguma (grande!) pancada com a arrumação de cabos e fios. Em todos os projetos que faço que os envolvam, existe sempre uma boa parte do tempo em que fico a arrumar fios. Odeio que estejam desarrumados. Eu sei que é um sintoma OCD (Obsessive Compulsive Disorder) mas que no meu caso é apenas uma "paranoiazita".
O controlador: A caixa maravilha onde tudo liga e que completa o circuito. Antes de ter um local final para a por, liguei os componentes, libertei a roda e liguei o sistema...
Fez-se luz e tudo começou a funcionar à primeira! Levantei a roda no ar e pela primeira vez ia perceber o tipo de forças envolvidas e como os componentes reagiam sem peso. Comecei a acelerar devagar e a roda começou a girar. Acelerei mais um pouco e a velocidade aumentou bastante. Nesta altura marcava cerca de 25km/h. Decidi soltar o bicho e leva-lo ao máximo! Atingiu 43km/h!!
Eu tinha a ideia de que isto era normal e que quando tivesse o meu peso em cima, a resposta seria muito mais lenta e a sua força máxima seria reduzida drasticamente.
Altura então de arrumar os cabos e finalizar "o bicho".
Com o kit, é fornecida uma bolsa para colocar na parte traseira do espigão do selim para por o controlador e onde todos os fios deverão de ser encaminhados. Utiliza-la para esse fim obrigaria a que a maioria dos cabos atravessassem toda a bicicleta para chegarem à bolsa. Embora o seu comprimento seja mais do que suficiente para o efeito, não me parecia bem esteticamente. Ainda comprei um "mini alforge" para a parte frontal do quadro onde colocaria todos os fios... Mas isso obrigaria que o fio da bateria atravessasse a parte inferior do quadro... Também não era do meu agrado... Acabei por a devolver uns dias depois porque não lhe iria dar uso.
E depois lembrei-me da bolsa triangular que estava de momento na Torah, a passear com o meu Pai. Era essa a solução! Bastava que reforçasse a fixação ao quadro e lhe fizesse uns furos para os cabos entrarem.
E depois lembrei-me da bolsa triangular que estava de momento na Torah, a passear com o meu Pai. Era essa a solução! Bastava que reforçasse a fixação ao quadro e lhe fizesse uns furos para os cabos entrarem.
Fui colocando a bolsa no sitio e simulava a entrada dos fios para garantir que tudo chegava e qual era a melhor localização para os furos. Acabei por fazer três distintos, em função do meu estudo de arrumação que estava a fazer em simultâneo. Um furo em cima na esquerda para os cabos do acelerador e display, um do lado direito para o cabo do motor e um final em baixo para o cabo da bateria.
Utilizei os velcros de fixação para dar um apoio final aos cabos e utilizei uma braçadeira plástica para garantir que a bolsa não saía do sitio. Fixei os cabos com mais braçadeiras plásticas, depois de os enrrolar na parte frontal, nas bichas de proteção dos travões.
Passei os cabos para dentro da bolsa, usando os buracos indicados, para que o excesso ficasse guardado dentro da bolsa.
Antes de os enrrolar, prendi o controlador a um dos elásticos, comecei a arrumar os fios e terminei as conexões. Neste caso, enganos não são possíveis porque cada ligação possui um terminal diferente, mesmo para que não haja enganos.
E ficou pronta a testar!
Levei-a à estrada para perceber o que era capaz de fazer...
Não há palavras para explicar... Aceleramos e ela anda sozinha :)
Embora isso seja o expectável, quando o fiz pela primeira vez e senti a força que tinha, senti que tinha a missão cumprida, como se todos os problemas que tivesse tido nos dias anteriores tivessem desaparecido...
Passeei um bom bocado usando quase sempre os pedais para ajudar. Parecia que tinha o quadruplo da força ou que ia sempre em descidas. Fantástico!
Voltei a casa e ia deixar para breve o primeiro teste em Lisboa, depois de lhe montar os acessórios finais.
No final, 11 meses depois de ter pensado pela primeira vez em ir para Lisboa com uma E-Bike, a Utopia 1.0 era uma realidade!