Vamos lá por aqui um pouco de revolta, temperada com indignação e uma pitada de irritação...
Se há coisa que me deixa fora de mim são as greves de transportes. Principalmente do Metro de Lisboa.
Antes que possa ser acusado de estar contra os direitos dos trabalhadores, ou que sou um insensível ou o que quiserem achar, digo o seguinte para os senhores do ML, sem qualquer tipo de filtro (as minhas desculpas pelo mau Português):
Vão todos para a MERDA!
Sim, merda em maiúsculas porque mereciam que fossem nadar numa piscina dela, bem grande e profunda, para se afogarem lá!
Agora sim, já estão no vosso direito de dizer que sou uma besta. Agora têm razões para isso.
Ok, já me acalmei... E porquê que falo disto? Vamos voltar um pouco atrás no tempo...
Nem sempre andei de bike em Lisboa. Isto é novo para mim. Antes, por muitas vezes, fui obrigado a trocar o meu trajecto habitual de transportes (CP + Metro) por alternativas menos decentes. Quando não havia metro, tinha de pagar um bilhete único de autocarro, apanhar o belo do 728 e seguir em modo lata de sardinhas do Cais do Sodré até ao Oriente.
O caso pior são as greves da CP. Nestas, transportes não eram uma possibilidade porque não existe nenhuma alternativa de Cascais para Lisboa, ou no sentido inverso. Lá tinha eu de sair de casa as 7:00 para bater o trânsito que aumenta drasticamente. Afinal de contas, sou apenas um dos milhares de utentes da linha de Cascais.
Nas actuais greves da CP, continuo sem grandes hipóteses... Fazer mais ou menos 40 km de casa ao trabalho mais 40 de volta numa bicicleta, ainda é puxado demais para o meu nível de skill (quem sabe um dia...). O carro continua a ser a única hipótese.
Quanto às greves de Metro, o caso muda de figura. Desde que comecei a pedalar, não sei o que é o efeito calor humano de um autocarro. Trago simplesmente a Torah comigo no comboio como faria em qualquer outro dia que a Pikena tivesse de ir para a faculdade.
"Mas se assim é porquê que estás tão chateado com a greve?!", perguntam vocês com todo o vosso direito e lógica.
A razão é bastante simples. Na verdade não é uma mas VÁRIAS razões:
- Eu pago por um serviço. Esse serviço tem algumas condições. Uma delas é a utilização ilimitada dos transportes da linha de Cascais da CP e outra é a utilização ilimitada dos transportes da coroa L da linha de Metro.
- Não é lá muito simpático ter de remarcar alguma coisa ou deixar de transportar algum objecto maior porque há greve e não o conseguir transportar na Torah.
- A greve é um direito e sou totalmente a favor. Mas o que é um direito, quando banalizado da forma vergonhosa que se está a fazer com o ML, deixa de ser direito e passa a ser "gostar de não fazer nada" ou o simples - lá vai sair asneirada novamente - "foder o utente". Estamos a falar de uma greve por semana!
No meio disto tudo, há ainda algo que me choca mais. Este episódio aconteceu à minha frente, da ultima vez que usei o 728 em dia de greve:
Com a prática das greves, deixei de apanhar o 728 no Cais do Sodré mas sim em Alcântara. Como chegou a acontecer comigo - e com muitos utentes - por não conseguir entrar no autocarro no Cais por estar tão cheio, passei a fazê-lo umas paragens antes, onde o comboio também pára.
Certo dia, ia eu em modo ZIP (ou RAR) junto à porta de saída do bus, metade das pessoas não conseguiram entrar no Cais (já estava tudo cheio). O mesmo continuou durante umas boas paragens, em que o motorista nem abria a porta da frente. Apenas parava para que saíssem pessoas.
Penso que estávamos na zona de Xabregas quando numa paragem estava um senhor de alguma idade de cadeira de rodas. Perguntou ao motorista se dava para entrar, ao qual obteve a resposta "Por questões de segurança, não é possível uma vez que o autocarro está muito cheio". O senhor, conformado, respondeu: "É o quinto que passa onde não consigo entrar. Siga lá que hei de ter mais sorte no próximo".
Estas são as coisas que me fazem ficar fora de mim! Eu, como tantos outros, estamos a "tirar o lugar" a pessoas que fazem aquele trajeto diariamente. Claro que nem eu nem ou outros temos culpa. O serviço é público e acessível a todos (pelo menos deveria de ser). A culpa é única e exclusivamente dos senhores que acham que podem brincar com o trabalho e a vida de terceiros.
Mais um detalhe interessante e irónico: Na última greve, reparei nesta publicidade dos transportes de Lisboa. Não pude deixar de tirar uma foto dado o dia que era:
Sim, agora ando de bike em Lisboa. Sim, agora as greves "não me afetam" (no fundo afetam sempre), sim agora não estou a ocupar lugares no 728. Mas não é por isso que a indignação desaparece...
Uma coisa é certa... Nestes dias, o "trânsito" na ciclovia entre o Cais e o Oriente, aumenta bastante... Parece que não sou o único...