Há coisas estranhas na vida e na forma em como as pessoas se relacionam. Hoje, falo do efeito de contagio. Não o digo numa óptica de doenças ou de infecções informáticas mas sim no poder de simples conversas...
Como deve de ser óbvio, andar de bicicleta tornou-se num tema de conversa com todos à minha volta.
O mesmo se passa com a minha paixão de vinhos. Há a curiosidade, o desconhecimento ou mesmo a vontade de manter uma conversa a fluir facilmente sem termos de dizer nada. Naquilo que gosto, qualquer pessoa mais introvertida pode ficar à vontade porque falo pelos cotovelos :)
Vinhos à parte (contagiei alguns para apreciar essa bela arte), o efeito Bike tornou-se um novo movimento com as pessoas à minha volta. Ora vejamos alguns exemplos:
O Pai:
Este senhor (forma formal e brincalhona que uso para me dirigir a uma das duas pessoas que me trouxeram a este mundo) sempre gostou de pedalar. Como tem bastante tempo livre dado o seu infortúnio profissional (desempregado), aproveita muitas vezes para pedalar, espairecer a cabeça e pensar na vida (imagino eu...).
Capacidade física e resistência estão lá e não são os seus 58 anos que o param.
Munido da sua bike, montada a partir de umas 4 diferentes, sem suspensão, travões de disco ou qualquer gadget moderno (sim, estamos a falar do equivalente a uma BTT com mais de 10 anos, daquelas que custavam 50€), faz frente a qualquer caminho, principalmente os que envolvem terra e natureza. Sempre o fez sozinho e nunca disse que não a ir com alguém.
Como iniciei este vicio, sempre que ando ao fim de semana, junta-se a mim ou se não combinar nada, é ele que me desafia.
O Cunhado:
Aficionado de desporto, frequenta o ginásio pelo menos 4 vezes por semana, partilha comigo umas partidas de ténis e combina futeboladas sempre que pode. Sim, ele tinha uma bike na garagem. Sim ela estava parada à cerca de 2 anos. Sim, é isso...
Com a minha embirrice e intervenções como "Ah e tal fixe era irmos dar uma curva no fim de semana até à serra" ou o clássico "Se eu vivesse tão perto do trabalho como tu, ia de bike todos os dias", alguns resultados foram obtidos...
Começou a dar uso ao "gingarelho" (nome fofinho com o qual baptizou a sua companheira de duas rodas) com uma ida à serra. Ela quase que não sobreviveu à volta devido a problemas nos pedais. Mas no final lá se aguentou...
Alguns arranjos e "atamancanssos" depois, começou a testar o caminho entre a casa e o trabalho. Já o fez várias vezes e diz que é para continuar...
Um mês depois, decidiu arrumar o Gingarelho num canto da garagem, chamou-me para o acompanhar e aconselhar, fomos a uma loja e comprou o seu novo brinquedo. No dia seguinte, fez o test drive na serra de Sintra comigo e com o meu Pai. Ficou rendido! "Agora é não parar!" disse-me ele quando chegamos ao fim do percurso.
A Irmã:
Provavelmente o maior exemplo que posso apontar de persistência e de força de vontade, é esta miúda.
Enquadramento: Estamos a falar de alguém que até há umas semanas atrás, nunca soube o que era andar de bicicleta. Em 30 anos (sim tem 30 anos) nunca tinha descoberto a felicidade de se equilibrar em duas rodas...
Na semana que iria completar as 31 primaveras, foi passar uns dias a uma terrinha perto de Peniche. Falou-nos - aos meus Pais, ao meu Cunhado, a Pikena e a mim - que era desta! Ia agarrar naquela bike velha e parada à anos que a minha tia tinha na casa de férias, e que iria, longe de olhares alheios, aprender a andar. Todos a apoiamos e achamos que era excelente: O que nunca imaginamos era que iria conseguir logo no primeiro dia! Claro que houve algumas quedas com direito a nódoas negras, joelho esfolado, etc. Ah, e perna direita dela conheceu de perto a roda pedaleira, tendo deixado os seus dentes marcados por duas vezes na carne. Foi decerto a melhor prenda que podia ter dado a ela mesma...
Já traçou o objectivo de treinar o equilíbrio (ainda algo precário) para um dia se juntar às nossas pedaladas...
No meio disto tudo, onde quero eu chegar?
Não acho que sou o responsável da força de vontade / bem estar dos que me rodeiam. Não sou eu que obrigo as pessoas a percorrerem os seus caminhos... Mas fico mesmo muito feliz que o façam! E quando somos mais do que nós próprios (não fazer as coisas sozinhos), torna-se tudo mais fácil e divertido! Puxamos e incentivamos-nos mutuamente!
Não sou o responsável, é verdade, mas decerto que sou um pequeno impulsionador...
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