Penso que foi mais ou menos à um mês atrás que comecei a combinar uma pedalada com mais pessoas do que o habitual. O objetivo era passarmos todo o dia pela serra até concluirmos 50 Km.
Ao longo do mês contactei todas as pessoas que poderiam estar interessadas e quando chegou a altura, com mais ou menos confirmações, éramos cinco.
No primeiro ponto de encontro, eu e o meu Pai, juntamo-nos a mais dois (um deles era o Cunhado, o outro era um amigo que nunca tinha pedalado connosco, doravante conhecido como S.S. ... )
Ainda quando aguardávamos a sua chegada, começou a cair um belo aguaceiro, que nos ameaçava e dizia "Querem mesmo prosseguir? Não seria melhor voltarem para casa para o quentinho?"
Bebemos o famoso café da praxe antes das pedaladas e seguimos rumo a Alcabideche onde nos juntaríamos ao quinto elemento que era também estreante nas nossas pedaladas (o Jack Lupin). Ele tinha-me enviado a seguinte SMS que passo a citar:
"Bom dia João!! Só para confirmar, apesar das condições metrológicas, é para seguir caminho, ou fica o passeio cancelado? Abraço"
A minha resposta foi:
"É para seguir :) Nós já tamos na Amoreira e estaremos no largo às 9:00. Se é para ser duro, é duro a sério! Ahahah Até já"
Mal sabia eu o que nos estava reservado...
Começamos a desbravar terreno em direção à serra e o tempo (embora já tivesse parado de chover) ameaçava desabar sobre nós, sem dó nem piedade, por termos ignorado os prévios avisos de tempestade que se avizinhavam... Íamos com cerca de 10 km já completados quando "all hell broke loose" sobre as nossas cabeças. Choveu, choveu, choveu e quando pensávamos que não era possível as coisas piorarem, começou a chover mais ainda...
Paramos quando nos conseguimos abrigar debaixo de uma árvore, para fazermos algumas adaptações. Voltar não era nesta altura uma hipótese porque já estávamos a mais de meio da subida e tínhamos fé de que o tempo iria melhorar. Afinal de contas, as previsões apontavam para chuva apenas no final do dia de Sábado e Domingo durante todo o dia. Era nesta altura Sábado de manhã. Não queríamos de todo cancelar algo com um mês de preparação, mesmo já estando totalmente encharcados da cabeça aos pés... Afinal de contas, como estávamos encharcados, o melhor era mesmo prosseguirmos a pedalar para nos mantermos quentes para não corrermos riscos de ficarmos doentes.
Quem tinha óculos guardou-os na mala, quem tinha mochilas decidiu por uns sacos a protege-las (tínhamos os nossos almoços lá dentro e comer pão molhado não é lá muito agradável), telemóveis e gadgets foram arrumados...
Como a chuva não dava sinais de abrandar, prosseguimos caminho, pelos trilhos de saibro que nesta altura já acusavam (e bem!) a chuva que tinha caído a montante. Os regos de água presentes na estrada tinham cada vez mais caudal e que remédio tínhamos nos em atravessá-los. Afinal de contas, molhados já estávamos e não poderia piorar mais...
Mas tínhamos uma ideia! Eu conferenciei com o meu Pai, conhecedor inato destes trilhos, que me indicou que existia uma casa abandonada uns quilómetros acima. Não tinha a certeza se teria ainda algum telhado mas que era uma possível hipótese de nos abrigarmos... Até lá, nenhum abrigo iria existir.
Esta é a altura em que posso dizer o quão estúpido fui por não ter levado o meu casaco impermeável. Como nota futura, irei sempre leva-lo a partir de agora, porque é leve e nunca sabemos quando o tempo pode mudar... Neste campo, não torno a ser enganado :)
Encontramos a casa, 3 km a frente, depois de estar sempre a subir por trilhos de cabras, sempre fustigados pela chuva que não parava de aumentar de intensidade...
Para nossa sorte, a casa, totalmente destruída pela natureza que colocou árvores e vegetação naquilo que outrora foram divisões, ainda tinha uma zona em que era possível abrigar-nos. Era uma parte da placa que outrora fora o primeiro andar, servia-nos agora de tecto sobre em tromba de água que continuava sem parar. Deixamos as bikes dentro do recinto da casa, mas à chuva, uma vez que o espaço era pequeno para nos abrigar aos cinco.
Parados, decidimos recarregar baterias, fazendo um pequeno lanche e torcendo a nossa roupa que estava totalmente encharcada.
Assim que paramos, a temperatura começou a descer. Fiquei preocupado com isso e dei a ideia de acendermos uma pequena fogueira para nos aquecermos e tentarmos secar as nossas roupas. A lenha caída a nossa volta estava molhada e fazer fogo nessas circunstâncias iria ser um desafio. Benditos lenços de papel que levo sempre na mala! Conseguimos fazer lume e fica o registo do momento:
![]() |
Os meninos à volta da fogueira (para todos os efeitos legais, não estamos a queimar a camisola do Benfica... Era mesmo para a secar :) ) |
Depois de secarmos as nossas t-shirts, decidimos aproveitar o lume para secar tudo o que podíamos como as luvas, as capas dos bancos e até mesmo as mochilas. Estivemos cerca de uma hora parados na casa antes que parasse de chover.
Mais secos e com a moral em cima (uma fogueira tem sempre esse efeito), apagamos bem o fogo (se há coisa que tenho pânico é de deixar fogo mal apagado) e prosseguimos caminho. Teríamos cerca de 3 Km de estrada alcatroada até chegarmos ao próximo trilho de terra que queríamos seguir. Novamente, as coisas não correram da melhor forma...
Mais secos e com a moral em cima (uma fogueira tem sempre esse efeito), apagamos bem o fogo (se há coisa que tenho pânico é de deixar fogo mal apagado) e prosseguimos caminho. Teríamos cerca de 3 Km de estrada alcatroada até chegarmos ao próximo trilho de terra que queríamos seguir. Novamente, as coisas não correram da melhor forma...
2 Km após o reinicio da pedalada, com a estrada totalmente encharcada, estávamos a fazer uma pequena descida quando, num S na estrada, o S.S. perdeu o controlo da sua bike (o Gingarelho do Cunhado que apresentei à uns posts atrás) e caiu à minha frente. Pelo que falamos depois, como não estava habituado a ela e porque apareceu um carro, travou demais, perdeu o controlo e foi ao chão... Apressamo-nos a ir ao seu encontro e vermos como estava. Ficou com o ombro, anca e joelho esquerdo esfolado. Para além do arder horrível de uma queimadura em alcatrão, poderia ter sido muito pior. Principalmente porque apanhou um carro de frente e poderia ter ficado debaixo dele...
Garantimos que estava tudo OK (dentro do possível), falamos que não vale a pena irmos rápido demais e que o mais importante é ninguém se aleijar...
O Gingarelho, sem dúvida que não estava nas melhores condições. Para piorar, a skill do S.S., por melhor que seja, não se aplica quando estamos parados há algum tempo (o que é verdade). Prosseguimos em marcha mais lenta a partir daí por mais dois km. Fui ao lado do S.S., atrás do resto do grupo até que ele me diz que não se sente bem e que o ombro lhe dói mais do que uma simples pancada... Fiquei preocupado e chamei o resto do grupo... Decidimos parar a pedalada por aí e iríamos para casa para que ele desse uma olhada a sério para a queda e as suas mazelas... O mais importante, é nunca deixarmos alguém para trás! Decidimos deixar o plano cair por terra e seguimos para baixo, em direção a casa.
Decidimos deixa-lo em casa e seguiríamos viagem, novamente, da parte da tarde, para a serra. Basicamente iríamos "dobrar" as subidas já que tínhamos combinado fazer isso durante todo o dia.
Depois de baterias recarregadas, pusemos novamente as malas às costas (eu não porque tenho porta bagagens :) ) e subimos novamente a serra para o take 2. Desta vez éramos apenas quatro visto que o S.S. tinha ido para o Hospital confirmar se estava tudo OK.
Passeamos durante a tarde, subimos, descemos e fizemos a paragem final na Barragem do Rio da Mula:
![]() |
Não é a Torah mas sim o novo brinquedo do Cunhado (a TrailRock 50) |
![]() |
Da esquerda para a direita: O Jack Lupin, o Pai e o Cunhado. Lá ao fundo, encostada à árvore, está a Torah. |
Depois de chegarmos a casa, o balanço final do dia foram 45K. Existe uma parte do mapa onde perdi o sinal GPS e o Strava, como "amigo" que é, decidiu marcar uma linha reta entre o ponto em que o perdi e ganhei novamente. Penso que se não o tivesse perdido, o trajeto total do dia tinha chegado aos 50k (era o meu objetivo)... Mas não faz mal...
Apenas como nota final, depois de chegar a casa durante a tarde, tivemos noticias do S.S. O que pareceu uma queda "inofensiva", resultou numa fratura do ombro. Terá agora de estar em casa durante 3 semanas, em repouso absoluto. Se não for ao lugar, terá de levar um parafuso :(
Esperemos que ele recupere a 100% e que queira voltar novamente a juntar-se a nós num futuro próximo...
Desta forma, depois do nosso primeiro infortúnio, deixo os seguintes alertas:
- Não andem mais rápido do que devem e que podem;
- Tenham sempre a vossa bike nas melhores condições possíveis;
- Andem sempre com um kit básico de primeiros socorros (não o tínhamos mas a partir de agora passa a ser algo obrigatório nas nossas pedaladas);
- Cuidados redobrados quando andam com piso molhado!
O Jack, o outro principiante que estava connosco (de principiante tem apenas o facto de nunca ter ido connosco antes porque de resto, aguenta bem mais que eu!), ficou fã e vai começar a ir de forma regular... Já conseguimos "contagiar" mais um!
Sem comentários:
Enviar um comentário